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Mário Limberger, 50 anos de militância em defesa dos Técnicos Agrícolas

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Ele começou a luta pela valorização da categoria na década de 1970.

Em 1975, foi eleito presidente (ATARGS). Nos anos 1980, coordenou a luta pela fundação da FENATA.

Mais recentemente, esteve à frente do movimento pela criação do CFTA.

 

O guri que saiu de casa, em Arroio do Tigre, na região Centro-Serra do Rio Grande do Sul, em busca de formação profissional de nível médio, fez mais do que conquistar o diploma de Técnico Agrícola. Inspirado na trajetória do pai, o líder sindical João Alvino Limberger, Mário Limberger tornou-se um dos principais líderes da categoria em todo o Brasil. Neste 5 de fevereiro, Mário completa 50 anos de militância em defesa da valorização da profissão, liderando os movimentos que resultaram nas grandes vitórias dos Técnicos Agrícolas.

Atual presidente do Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas (CFTA) e da Federação Nacional dos Técnicos Agrícolas (FENATA), Mário Limberger se formou em Técnico Agrícola no Colégio Agrícola de Sertão em 1973. Por algum tempo, prestou assistência técnica a pequenos produtores de Arroio do Tigre, o que lhe permitir conhecer ainda mais as dificuldades enfrentadas na atividade rural para produzir alimentos para as populações urbanas e do campo.

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Foto: Comemoração dos 50 anos da turma de 1973 do Colégio Agrícola de Sertão  (fonte IFRS)

 

Ao mesmo tempo, o jovem Técnico Agrícola seguia os passos do pai, João Limberger, que foi vereador no município de Sobradinho, em 1951. Liderança respeitada entre os agricultores, João Limberger também foi um dos fundadores do Sindicato Rural dos Produtores Rurais de Arroio do Tigre, nos anos 1960, com apoio da Frente Agrária Gaúcha (FAG), ligada à Igreja Católica. Não demorou, portanto, para o DNA sindicalista levar Mário para a luta pela organização da categoria de Técnicos Agrícolas.

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Foto: Técnico Agrícola Mário Limberger

 

Em 1974, Mário e antigas lideranças da categoria articularam a reestruturação da Associação dos Técnicos Rurais do Rio Grande do Sul (ATR). Fundada em 1941, a ATR estava desativada havia 10 anos na ocasião. Em assembleia no dia 5 de fevereiro de 1975, na sede da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Mário foi eleito presidente da ATR.

À época, Mário tinha 22 anos. Embora jovem, não se intimidou e encarou o desafio de retomar as atividades da entidade, assumindo a coordenação das ações voltadas ao fortalecimento da categoria dos Técnicos Agrícolas, juntamente com seus companheiros de diretoria. Desde então, ou seja, desde 1975, Mário Limberger não parou mais de lutar em defesa das causas da profissão. Hoje, ele é um dos mais longevos líderes da categoria e do sindicalismo brasileiro.

 

Nasce a ATARGS

Com a posse da nova diretoria da ATR, o quadro social saltou de 40 para 300 sócios. Além de promover a reforma do estatuto de entidade, Mário Limberger e os demais diretores resolveram mudar o nome da ATR. Nascia, assim, a Associação dos Técnicos Agrícolas do Rio Grande do Sul (ATARGS), dando início ao associativismo da categoria no estado.

Além de organizar e mobilizar os Técnicos Agrícolas gaúchos para lutar por melhores salários e condições de trabalho, Mário Limberger também se preocupou em fortalecer a categoria em outros estados.

A articulação interestadual das associações de Técnicos Agrícolas ganhou força país afora. Em 1978, foi realizada a primeira reunião das associações da categoria, na Escola Técnica de Agricultura (ETA), em Viamão (RS). Participaram da reunião Mário Limberger (RS), Hugo Biche (SC), Nelson Dias e Vilmar Vieira Mattos (MS) e Valmir Verçosa (SP).

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Foto da 1ª reunião de presidentes de associações, na ETA, em 1978.

“Apesar das dificuldades financeiras e logísticas para realizar mobilizações de repercussão, os encontros nacionais começaram a ganhar importância a parir de setembro de 1978. Nessa fase, as organizações de técnicos de todo o Brasil passaram a se reunir em assembleias e encontros para debater as questões de classe”, regista o livro Técnico Agrícola, 100 anos de profissão.

“Foi um ciclo de intensa participação da categoria e coincidiu com o período em que a sociedade brasileira reivindicava a volta da democracia, da liberdade de expressão, dos direitos individuais e das garantias constitucionais. Em uma coincidência histórica, a voz dos técnicos agrícolas se somava às vozes dos demais segmentos reivindicatórios da nação”, acrescenta trecho do livro.

Mário Limberger sabia que era importante aproveitar o movimento pela democracia para mobilizar os Técnicos Agrícolas no Rio Grande do Sul e em outros estados. Por isso, o encontro realizado na ETA foi extremamente importante, transformando-se num marco da organização nacional da categoria, o que veio a se confirmar nos anos seguintes com o crescimento das manifestações dos Técnicos Agrícolas pelas diferentes regiões do país.

 

Criação da FENATA

Com o surgimento de associações e sindicatos estaduais de Técnicos Agrícolas, Mário Limberger e as demais lideranças da categoria começaram a articular a criação de uma entidade nacional para coordenar e unificar as lutas pelas principais reivindicações da profissão. O resultado dessa mobilização foi a criação da Federação Nacional dos Técnicos Agrícolas (FENATA Sindical), em 1989, cuja presidência ficou com Mário Limberger.

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1ª Diretoria da FENATA(1989)

A partir de então, a FENATA passou a ganhar protagonismo nas lutas da categoria, substituindo o Movimento Nacional, que era formado por associações estaduais e atuou de 1981 a 1989. Nesse período, o Movimento Nacional teve importante papel na organização da profissão e nos embates com os CREAs e CONFEA junto ao governo para regulamentar a profissão.

De 1989 para cá, a FENATA, sob a liderança de Mário Limberger e demais líderes da categoria, esteve à frente das grandes mobilizações dos Técnicos Agrícolas pela valorização da profissão. Atualmente, a FENATA reúne 34 entidades filiadas, com abrangência em todas as regiões brasileiras e em 20 estados brasileiros, além do Distrito Federal. A Federação Nacional dos Técnicos Agrícolas é hoje uma das entidades mais respeitadas do movimento sindical brasileiro.

 

CFTA, um Conselho Diferente

Um dos principais focos da atuação de Mário Limberger foi buscar livrar a categoria do vínculo com o Sistema Confea/CREA, que sempre impôs restrições ao exercício dos Técnico Agrícola, embora tenha mantido a profissão sob sua estrutura durante anos. Por isso, há cerca de 40 anos, Mário e as lideranças dos Técnicos Agrícolas vinham fazendo movimentos para criação do Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas (CFTA), o que tiraria a categoria do Sistema Confea/CREA.

A luta pela criação do CFTA ganhou força na década de 2010. Mário Limberger e as lideranças da categoria intensificaram as articulações no Congresso Nacional para apresentar projeto de lei propondo a instituição do Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas.

Nesse percurso, as lideranças dos Técnicos Agrícolas tiveram que vencer múltiplas batalhas, nas quais enfrentaram até a resistência, por vezes desleal, de minorias da categoria que se aliaram a adversários da FENATA, dos sindicatos e das associações.

Nas articulações coordenadas por Mário Limberger em Brasília, a FENATA, os sindicatos e as associações sempre defenderam a criação de dois Conselhos, o dos Técnicos Agrícolas e o dos Técnicos Industriais, e não um Conselho conjunto, como previa o projeto original enviado pelo Palácio do Planalto ao Congresso Nacional.

A proposta do Conselho conjunto era defendida pelos Técnicos Industriais e por grupos de Técnicos Agrícolas adversários da FENATA, dos sindicatos e das associações a ela filiados. A redação do projeto que previa a criação do Conselho conjunto se manteve inalterada durante praticamente toda a tramitação no Senado. Tanto que o texto chegou, inclusive, a ser iaprovado na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).

Na tarde de 28 de fevereiro de 2018, o projeto de criação do Conselho conjunto dos Técnicos Agrícolas e dos Técnicos Industriais estava na pauta e foi à votação no Plenário. Entretanto, quando a proposta ia ser votada, o senador Valdir Raupp pediu a palavra e defendeu a tese de conselhos separados, apresentando emenda alterando o texto para criar os dois Conselhos, como defendiam a FENATA, os sindicatos e as associações.

“Na última hora, conseguimos fazer uma extraordinária e decisiva articulação com os senadores, especialmente com o Valdir Raupp, para apresentar uma emenda separando os Conselhos (Técnicos Agrícolas e Técnicos Industriais)”, ressaltou, à época, Mário Limberger.

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Senado Aprova a Criação do Conselho Federal do TA

 

“A ‘Emenda Raupp’, aprovada por unanimidade pelo Plenário do Senado, foi resultado da enorme articulação política da FENATA, dos sindicatos e associações. Mesmo em minoria no Senado naquele momento, conseguimos este feito extraordinário, encerrando uma luta de mais de 40 anos por um Conselho próprio”, acrescentou o hoje presidente do CFTA.

Menos de um mês depois, em 26 de março, o então presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.639/2018, dando aos Técnicos Agrícolas a tão sonhada independência em relação ao sistema CONFEA/CREAs. A decisão de Temer permitiu ainda que a categoria se fortalecesse mais no cenário da agropecuária brasileira como a principal responsável pela assistência técnica de milhares de pequenos, médios e grandes produtores. Além disso, a profissão é também uma das que mais contribuem para a segurança alimentar e sustentabilidade do Brasil e do planeta.

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Foto: Presidente Michel Temer e Técnico Agrícola Mário Limberger

 

Mário Limberger foi eleito o primeiro presidente do CFTA e hoje está no segundo mandato. Costumava dizer que só foi possível vencer a batalha pela criação do CFTA porque teve apoio incondicional das demais lideranças da categoria, que jamais desistiram de criar um Conselho Diferente, com diz o slogan do CFTA, para prestar serviço e lutar pelos interesses da profissão.

 

Na Assembleia Legislativa do RS

Ao longo de sua trajetória, Mário Limberger também representou os Técnicos Agrícolas na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Aos 34 anos, ele foi eleito deputado estadual com forte apoio da categoria, pela qual lutou durante dois mandatos no Legislativo gaúcho.

 

Leis e decretos

Paralelamente às ações desenvolvidas pela criação de entidades para fortalecer o movimento nacional dos Técnicos Agrícolas, Mário Limberger também teve participação decisiva na elaboração de leis e decretos que garantiram a valorização da profissão.

Entre as principais leis e decretos articulados por Mário Limberger e lideranças, estão as seguintes:

 

Decreto 90.922/1985

Regulamentou as atribuições profissionais do Técnico Agrícola.

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Última audiência com o Presidente da República, João Figueiredo, que confirmou que a regulamentação 

da profissão de Técnico Agrícola seria decretada em seu mandato, que terminou em 15 de março de 1986.

 

Decreto 4.560/2002

Ampliou as atribuições dos Técnicos Agrícolas expandindo sua atuação no mercado de trabalho.

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Foto: Técnico Agrícola Mário Limberger, o Ministro da Casa Civil Pedro Parente e o Deputado Federal Hugo Biehl

 

Lei 6.040/2009

Criou o Dia do Técnico Agrícola que é comemorado anualmente no dia 05 de novembro.

 

Lei 13.639/2018

Criou os Conselhos Federal e Regionais dos Técnicos Agrícolas.

 

Portaria 3.156/1987 do MTE

Enquadrou o Técnico Agrícola como Profissional Liberal.

 

 

 

DEPOIMENTOS:

 

MÁRIO LIMBERGER, UM MARCO DA PROFISSÃO 

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Técnico Agrícola Gilmar Zachi Clavisso

Diretor de Fiscalização

e Normas do CFTA

 

           

 

Se não fosse ele, talvez não teríamos tantas conquistas e não seríamos uma profissão tão valorizada como somos hoje no Brasil.”

Em 1978, eu me formei como Técnico Agropecuário. Em 1984, fui eleito secretário-geral da Associação dos Técnicos Agrícolas do Estado do Paraná, a ATAEPAR. Em 1986, fui eleito vice-presidente da ATAEPAR. Em 1987, fui eleito presidente do Sindicato dos Técnicos Agrícolas do Paraná e depois entrei para diretoria da FENATA. Atualmente sou o diretor de Fiscalização e Normas do CFTA.

Nos anos 1980, nós, no Paraná, já tínhamos informações da luta do Mário Limberger pela regulamentação da profissão. Eu conheci pessoalmente o Mário Limberger em 1985 em uma reunião nacional da FENATA, em Brasília. Já faz 40 anos que conheço o Mário Limberger, mas ele já liderava o movimento dos Técnicos Agrícolas desde 1975.

Hoje estamos no cinquentenário da liderança do Mário Limberger na categoria dos Técnicos Agrícolas e também no cinquentenário da reorganização do movimento dos Técnicos Agrícolas. E foi o Mário que começou a reorganizar o movimento em 1975, quando tinha 22 anos. A partir de então, o movimento se espalhou por todo o Brasil.

Nestes 50 anos, o Mário Limberger foi e ainda é o principal líder da categoria. É uma figura que conseguiu conquistar várias atribuições para os Técnicos Agrícolas no exercício da profissão. Foi também uma pessoa que liderou todos os movimentos nacionais, sendo decisivo para o surgimento de sindicatos e associações nos estados e de novas lideranças da categoria.

O Mário Limberger é um homem persistente, insistente e que chama a gente para decidir, para estudar, discutir e ir à luta pela nossa profissão. Por isso, o Mário Limberger é um marco para os Técnicos Agrícolas. Se não fosse ele, talvez não teríamos tantas conquistas e não seríamos uma profissão tão valorizada como somos hoje no Brasil.”

 

 50 ANOS DE LUTA EM PROL DA PROFISSÃO

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Técnico Agrícola Valdecir Aparecido Vasconcelos

Diretor Financeiro do CFTA

           

 

Como Técnico Agrícola formado há mais de 30 anos, sou eternamente grato ao Mário Limberger.”

“Eu me formei há 30 anos. Em 2013, quando eu fui contratado pelo sindicato, descobri toda a atuação que nós, profissionais, podíamos fazer. Aí, eu também conheci toda a história dos Técnicos Agrícolas e descobri todo o trabalho que o Mário Limberger fez nesses 50 anos pelo movimento da categoria.

Hoje, eu vivo 100% da minha profissão, não tenho outra graduação, minha graduação é Técnico Agrícola e sou eternamente grato ao Mário Limberger, que lutou durante esses 50 anos em prol da nossa profissão até a conquista da nossa independência, com a criação do Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas.

Se não fosse o Mário Limberger, que nesses 50 anos teve que muitas vezes que deixar a sua família para se dedicar a causa dos Técnicos Agrícolas, nós teríamos acabado enquanto categoria, assim como os técnicos em contabilidade. Então, como Técnico Agrícola formado há mais de 30 anos, sou eternamente grato ao Mário Limberger.”

"Poderíamos afirmar, sem vacilos, que grande parte do que somos hoje enquanto categoria profissional devemos a Mário Limberger, que dedicou os melhores anos de sua vida aos Técnicos Agrícolas, sempre com o apoio incondicional de sua esposa e filhos que compreendem a importância de doar a vida por esta causa, porque ela é maior que todos os sacrifícios”, escreveu o Sindicato dos Técnicos Agrícolas do Estado da Paraíba (SINTAG-PB) quando Mário Limberger completou 60 anos. O texto do SINTA-PB continua atual. Muito atual neste 5 de fevereiro de 2025, quando Mário Limberger completa 50 anos de militância em defesa dos Técnicos Agrícolas do Brasil.


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Técnico Agrícola Mário Limberger