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Técnico Agrícola gaúcho é destaque na produção de bioinsumos

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Valdecir Ferrari trabalha com compostagem e bioinsumos há cerca de 40 anos. Hoje, ele tem uma biofábrica no interior do RS e presta serviço para grandes empresas do agronegócio

O Técnico Agrícola, pesquisador e empresário gaúcho Valdecir Ferrari é atualmente um dos maiores estudiosos e produtores de bioinsumos do Brasil. Parceiro do Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas (CFTA) e da Federação Nacional dos Técnicos Agrícolas (FENATA), Valdecir Ferrari espera que a lei dos bioinsumos, aprovada pela Congresso Nacional e sancionada pela Presidência da República no dia 24 de dezembro de 2024, garanta a qualidade dos bioinsumos, independentemente de serem produzidos profissionalmente ou on farm (nas fazendas).

Valdecir Ferrari começou a trabalhar com bioinsumos há cerca de 40 anos, com a produção de compostagem de subprodutos da videira. Hoje, ele tem uma biofábrica em Garibaldi, no interior do Rio Grande do Sul, e presta consultoria para grandes empresas, como a SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de grãos de país.

 Durante a tramitação do projeto de lei, Valdecir apresentou ao CFTA e à FENATA uma série de orientações para aperfeiçoar o texto e garantir a presença dos Técnicos Agrícolas na produção de bioinsumos.

 

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Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista concedida por Valdecir Ferrari ao CFTA/FENATA sobre a bioinsumos e a aprovação da lei que regulamenta a sua produção no Brasil.

 

CFTA/FENATA: Qual a avaliação que o senhor faz sobre a aprovação do projeto de lei dos bioinsumos?

 Valdecir Ferrari: Espero que fique assegurada a qualidade dos bioinsumos, independentemente se a produção é profissional ou on farm (na fazenda). Espero também que seja exigido o mínimo na legislação para garantir segurança alimentar. Ou seja, a legislação precisa garantir que os bioinsumos que forem produzidos no Brasil não carreguem contaminantes que prejudiquem o consumo de alimentos, principalmente os de consumo in natura.

Paralelamente, espero que a lei garanta que os investimentos da iniciativa privada no setor de bioinsumos, na área da pesquisa, sejam garantidos. Assim, a iniciativa privada passará a investir na pesquisa, fazendo com que o setor de desenvolva mais rapidamente.

 

CFTA/FENATA: O senhor e suas empresas estão nesse mercado há cerca de 40 anos. O que o levou a despertar o interesse pela produção de bioinsumos e quando o senhor começou a produzi-los?

 VF: Bioinsumos é um termo gigante. Muitos acham que bioinsumos é produzir em fazendas (on farm) ou em propriedades profissionais. Para mim, produzir compostos orgânicos já é produzir bioinsumos. Uma boa compostagem pasteuriza a matéria orgânica e seleciona grandes grupos de micro-organismos que são benéficos para uso agrícola. A diferença básica é que uma boa compostagem garante sanidade em policultivo de micro-organismos e uma fábrica on far ou profissional de hoje tem que garantir um bom monocultivo de microorganismo.

 Então, no meu entendimento, desde jovem junto com o meu pai, nós fazíamos compostagem do esterco bovino com palhas. Estou nessa área desde os meus 15 anos, são, portanto, 40 anos. E como empresa, na pesquisa, estou trabalhando nesse setor há mais de 30 anos. Como empresa profissional são mais de 20 anos.

 

CTFA/FENATA: O senhor teve alguma inspiração na religião ou na ciência para desenvolver seu trabalho com compostagem e bioinsumos?

 VF: Sempre tive um chamamento no meu eu a São Francisco de Assis, a mãe terra. Sou devoto dele, também sou ligado a Lavoisier – “Na natureza nade se cria nada se perde, tudo se transforma”*.

 Esses pensadores me influenciam desde criança e sempre fui chamado no meu eu a olhar o que se bota fora e foi a partir deste chamamento que comecei a trabalhar a compostagem de subprodutos da videira e me aprofundei, conhecendo os grupos de micro-organismos que atuam numa compostagem.

 Com isso, entendi o conceito de pasteutizaçao e relacionei com a compostagem. Entendendo alguns grupos que sobrevivem e participam ativamente na compostagem. Vendo o resultado positivo que estes proporcionam aos vegetais, passei a me aprofundar nestes grupos e, além de produzir estes grupos de micro-organismos de forma de poli, passei a isolar os mesmos e a produzir de forma mono. Aí, criamos a primeira biofábrica on farm para a nossa produção de mudas, de forma a monocultivo em 2011 e comercialmente em 2020.

 

CFTA/FENATA: Quais bioisumos o senhor produz e a partir de qual matéria-prima?

 VF: Produzimos seis grupos de micro-organismos de forma em monocultivo: fungos, bacillus, Bradirizobium e Azospirilum, Actinomicetos, leveduras e outros. Alguns já são comerciais e outros estão em via de registro e são produzidos experimentalmente. Estes grupos podem ser usados no meio ambiente e na agricultura.

 Produzimos em policultivos, em fermentações sólidas e líquidas, no modelo de compostagem Beifort, vários produtos, como fertilizantes organominerais e orgânicos. Nestas fermentações ocorrem pasteurizações naturais, prevalecendo leveduras, bacillus e actinomicetos de forma poli.

 

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CFTA/FENATA: Em quais culturas são aplicados seus bioinsumos e em quais regiões do país?

 VF: Em todas as culturas, em especial, flores, que foi o nosso primeiro mercado. Depois, passamos a trabalhar com hortifruti, grãos e demais. Nossos produtos são usados e todo o Brasil, com maior destaque para as regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Nossa expectativa é crescermos muito na área de grãos.

 

CFTA/FENATA: A SLC Agrícola, uma das maiores produtoras de grãos de país, é sua cliente. Qual o trabalho que o senhor desenvolve lá?

 VF: Sim, a SLC Agricola é nossa cliente, especialmente no policultivo de micro-organismos. Através do modelo de compostagem Beifort, transformamos os subprodutos orgânicos das fazendas em bioinsumos, através da técnica Beifort de compostagem. Ou seja, transformamos o lixo deles, desde papel higiênico dos banheiros, subprodutos do grão e algodão em fertilizantes orgânicos com mais de 10 milhões de micro-organismos benéficos e por grama de fertilizante orgânico. A técnica Beifort permite pasteurizar naturalmente a matéria orgânica e cultivar micro-organismos benéficos para a agricultura, produzindo de uma forma diversa um policultivo direcionado de grupos de micro-organismos.

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CFTA/FENATA: Qual a sua perspectiva de expansão do mercado de bioinsumos a partir da aprovação do projeto de lei?

 VF: Espero que a lei valide certo o mercado e o regulamente, beneficiando o profissionalismo. Se isso ocorrer, teremos um crescimento mais rápido e seguro, fazendo com que antes de 2040 o mercado de bioinsumos seja maior do que o de agroquímico. Este, aliás, também crescerá nos próximos anos, mas menos que o de bioinsumos. Se a lei proteger a pirataria e a produção sem controle, aí teremos um desenvolvimento mais lento, atrasando o processo em mais de 10 anos.

 

CFTA/FENATA: Como é o trabalho de sua biofábrica de bioinsumos?

 VF: Muita pesquisa. Tenho hoje três doutorandos estudando na empresa. Mais da metade da minha equipe trabalha turno integral ou no mínimo 50/100 em pesquisa. 30/100 na produção e os demais no comércio e administrativo. A força maior está direcionada na pesquisa.

 

*Antoine-Laurent de Lavoisier foi um nobre e químico francês fundamental para a revolução química no século XVIII, além de ter grande influência na história da química e na história da biologia. Ele é considerado na literatura popular como o "pai da química moderna".